As Virgens Suicidas de Jeffrey Eugenides




Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança. O coro lírico que então se forma ajuda a dar um tom sui generis a esta fábula de inocência perdida.

Adaptado ao cinema por Sofia Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução brasileira, o livro de estreia de Jeffrey Eugenides rapidamente se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea. Grande parte desse sucesso se deve a sua prosa virtuosística, com um gosto por detalhes que dá às descobertas banais dos narradores – um armário cheio de cosméticos, um absorvente na lixeira do banheiro – uma vivacidade incomum.

Os mistérios vibrantes do "intoxicante caos feminino" se misturam a certa melancolia que evoca - nostálgica e criticamente – valores e sentimentos do que se convencionou chamar de sonho americano. 

Desse cenário idílico, de regadores automáticos nos jardins, meninas "transpirando néctar" à beira da piscina e manhãs de domingo em que "espetáculos com a frigideira" produzem panquecas, surge uma beleza estranha e arrebatadora, definida pela crítica do New York Times Michiko Kakutani como "pequena e poderosa ópera no formato inesperado de romance".


 

Uma história muito intensa – claro que não poderia ser diferente, pois se trata de suicídio –, mas ao mesmo tempo muito singela. A voz narrativa é bem trabalhada e interessante, pois os garotos, que depois se tornarão homens, conseguem fazer com que os leitores entrem na história. É um modo de narrar bem diferente, pois parecia que os meninos/homens ainda estavam tentando compreender e entender o que levou as garotas Lisbon ao ato extremo de tirar as próprias vidas – e mesmo muito tempo depois do fato, eles ainda não chegaram a uma resposta, e acho que essa viagem toda que é o livro é para levar a nós, leitores, a ajudá-los a isso.

A primeira das cinco meninas a se suicidar foi Cecilia e, para os meninos da vizinhança, foi o primeiro contato com a morte! Dá para perceber o choque que sentem e tal fato só serve para aumentar ainda mais a curiosidade e glamour que as meninas Lisbon exercem nos vizinhos. Fora da escola, eles só veem as meninas quando elas saem para ir à missa de domingo ou quando aparecem nas janelas ou na frente da casa rapidamente. A mãe é uma mulher que prende muito as meninas e não permite que elas se socializem muito. E, na escola, elas não têm muito liberdade, pois o pai é um dos professores. 

Como disse, a narração é feita pelos homens que esses meninos se transformaram. Às vezes temos a impressão de que eles estão escrevendo uma tese, pois citam anexos e entrevistas que fizeram com pessoas que viviam na região e com os próprios Sr e Sra. Lisbon. Além disso, eles puxam pela memória e vão trocando lembranças e informações que tinham ou ouviram quando adolescentes e os marcaram. Não é uma narrativa muito linear, portanto, mas é algo que vai aumentando o suspense. Claro que, pelo resumo, já sabemos o que vem pela frente, mas queremos ver como e descobrir o porquê!

Eu acho que o autor conseguiu escrever uma obra em que permite ao leitor inferir e tirar suas conclusões e a interagir com a história de acordo com sua experiência de vida e olhar pessoal. Eu, por exemplo, senti que o livro era uma ode a vida, pois os meninos narradores constantemente nos lembravam das dificuldades que sentiram ao crescer e em como a vida nem sempre foi fácil e legal com eles, mas nem por isso desistiram dela e acho que, por isso, buscavam tanto entender o ato das meninas Lisbon. A prosa é riquíssima e, às vezes, uma única palavra era capaz de nos abrir mundos e suposições diversas!

Pode parecer pelo resumo, que já nos diz o que esperar, que o livro é previsível. Ledo engano! Esse livro traz tantas coisas inesperadas e nos ajuda a fazer tantas descobertas e abre tantos questionamentos que a leitura é realmente inédita. E posso dizer que em futuras releituras, vou descobrir novos ângulos e visões, pois o autor realmente sabe como trabalhar as palavras e como ir conduzindo o texto para um aproveitamento sensacional da história.

Super recomendo!

12 comentários:

Mila Ferreira disse...

Tenho uma grande vontade de ler, mas sei lá teve algo que vc comentou na resenha que me deixou com um pé atrás.
O fato de parecer que eles estão escrevendo uma tese parece tão estranho. Claro que fiquei curiosa pra entender isso, mas ao mesmo tempo [se for possivel entender] me desmotivou um pouco.
bjs
Camila Márcia
@camila_marcia
De Livro em Livro
Devaneios Fugazes

Dany disse...

Estou doida pra ler esse livro. Tenho visto muitos comentários sobre ele e minha curiosidade aumentou muito.
Beijos.

Regina disse...

Dany,

É um livro muito bom. Acho que merece uma chance, pois realmente ele nos faz curiosas.

Camila Márcia,

Essa questão da tese foi como me senti em algumas passagens e frases usadas pelos narradores,apesar de não ter nada disso no decorrer do livro! Mas como disse, o autor escreve de modo que faz com que você use sua visão de mundo e conhecimentos para ir explorando a obra! Por isso, você pode ter uma impressão completamente diferente da minha... Tem muita coisa que deixei de comentar por não querer dar spoilers, mas o modo como Jeffrey escreve me fez ir por diversos caminhos e adorei cada minuto da leitura!


bjs

Ana Luiza Ferreira disse...

Oi,

já tinha ouvido falar desse livro e sou louca para lê-lo! Sua resenha me deixou com mais vontade ainda!

Bjs

Iasmin Guimarães disse...

Hey,
Já tinha ouvido falar nesse livro, mas nunca tive oportunidade em ler. Parece ser beeeem bacana, curti a resenha (:

Tem resenha nova lá no blog ^-^

Bye,
Iasmin - Febre Literária.

Gabi Lima disse...

Oi!
Não li esse livro, mas só pela sinopse e pelo que você escreveu fiquei morrendo de curiosidade.
Já adicionei na minha lista de desejados. Assim que puder compro esse livro. =)

Bjs
Gabi Lima
http://livrofilmeecia.blogspot.com.br

@ Moda e Eu. disse...

Noooosssa!
Não conhecia o livro, porém deve ser "pesado!.
Bom, gostei, mais não sei se teria coragem de ler-lo.

Beijos

Modaeeu.blogspot.com

Unknown disse...

Oi!!

Gostei muito da resenha. O livro deve ser bem interessante!!

Abraços!

Leninha Sempre Romântica disse...

Nossa que leitura intrigante, foi para minha lista de desejos.
Adoro dramas fortes e se tratando desse tema, ta pra mim, adorei.

Nina é uma disse...

Oi, Regina!
Eu já conhecia o título deste livro há algum tempo, mas nunca tinha tido interesse na história em si. Mas sempre que vou à Cultura o vejo nas estantes e fico com vontade de comprar. E com esta resenha fiquei realmente entretida e pretendo colocá-lo na minha wishlist!
Ótima resenha! (:
Beijos.
Love, Nina.
http://omundocoloridodanina.blogspot.com/

Marcia Noto disse...

Oi, Regina!

Achei a sua resenha muito boa, mas esse livro vou deixar passar!
Estou numa fase mais light, sem querer ler nada muito pesado, então esse tema não é para mim...

Beijos!

Patricia Cardoso disse...

Olá Rê,
temos um gosto pra leitura bem parecido, então um super recomendo seu, pra mim é uma ordem (rsrsrs). Bjs!

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