Ler, Viver e Amar em Los Angeles


Dora cura a sua tristeza lendo - às vezes por dias consecutivos. Separada pela segunda vez, sua vida se resume a ficar na banheira com vinho e livros - de Tolstoi a Mark Twain, de Flaubert a Jane Austin. Best-seller e livro cult na Costa Oeste americana mostra como a boa literatura pode ser reconfortante e um chave contra os momentos mais difíceis da vida. Tudo isso tendo como cenário a luxuosa Los Angeles, suas lojas, paisagens e ruas que moram no imaginário dos amantes de cinema e dos seriados de TV.

***

Confesso que nunca tinha comprado um livro pela capa. Mas, não consegui resistir, pois a idéia da imagem acima,
nos faz pensar na importância que a leitura exerce numa pessoa, fazendo-a esquecer dos problemas e do mundo real! E assim, quando dei por mim, o livro já estava em minha cesta de compras virtual :)

No começo da leitura fiquei preocupada com as atitudes da personagem principal. Mas depois Dora me conquistou, mesmo com as suas imperfeições. Afinal quem não as tem?! Dora é uma personagem peculiar, viciada em livros, principalmente quando está deprimida (algo comum depois de seu divórcio com Palmer).

A descrição da personagem principal, a vontade em sua casa com seus livros numa banheira, é para os aficionados por livros _ inesquecível. Dora, naqueles momentos, somente dela, pode evitar o mundo e a vida se escondendo através dos livros. Eu particularmente achei muito interessante essa colocação e a premissa que irá se desvendar a partir disso! Acredito que muitos bibliófilos de plantão, irão se identificar com Dora, com toda a certeza.

Além da personagem tão peculiar, achei muito interessante as referências literárias, autores, comentários pertinentes e engraçados. Em cada capítulo era citado um trecho de um autor e sua obra. E eles sempre condiziam com o que vinha adiante narrado pelas autoras Kaufman e Mack. Gostei muito do estilo e desenvoltura das autoras. Claro, preciso dizer que o romance é um tanto açucarado demais e o casal "principal" Fred e Dora desde o começo eram incompatíveis para mim (pelo menos a Dora, mesmo um tanto tarde, descobriu isso também rs). Mas, mesmo com os amores errados, achei o livro muito mais realista. E as imperfeições dos personagens deram uma visão ainda mais ampla neste sentido...

Em suma, o livro é bastante singular. Ví avaliações tanto positivas como negativas do mesmo. Gosto não se discute! Mas, acredito que se você acha a temática livros interessante, um bom entretenimento, irá realmente gostar deste livro.

Vou deixar um trecho do livro, para vocês terem uma idéia talvez mais clara a respeito do livro. Para cada um avaliar de sua maneira o que se espera...


Mestre do universo

Todas as melhores histórias do mundo, na realidade, nada mais são do que uma única história, a história da fuga. É a única coisa que nos interessa a todos e todo o tempo: como fugir.

Arthur Christopher Benson (1862-1925)


As mulheres fazem coisas diferentes quando estão deprimidas. Algumas fumam, outras bebem, outras ligam para o terapeuta, algumas comem. Minha mãe costumava ficar furiosa quando ela e meu pai brigavam e, depois, se embriagava durante dias sem fim e desaparecia dentro do quarto. Minha irmã era mais do tipo frieza total; dê-lhes um gelo e, nesse meio tempo, devore um bolo gelado Sara Lee de banana. E o que eu faço - o que sempre fiz - é sumir de tudo e de todos, mergulhando em um porre literário que pode durar vários dias.

Eu caio nesse estado por diversas razões. Às vezes é depois de uma briga do tipo "Não agüento mais olhar pra sua cara". Outras vezes, é sintomático do meu estado psicológico, tédio até o último fio de cabelo, minha vida que está bagunçada, e aquele sentimento de medo sempre que me perguntam o que ando fazendo. Como alguém pode colocar todas essas coisas em ordem? Levando tudo em consideração, prefiro ler. É a fuga perfeita.

Tenho todo um ritual para meus porres literários. Primeiro de tudo, abro uma garrafa de um bom vinho tinto. Depois desligo o celular, ligo a secretária eletrônica, reúno todos os livros que tenho a intenção de ler ou reler e ainda não o fiz. Finalmente, encho a banheira com sais de banho de 30 dólares, dobro uma toalhinha, colocando-a na extremidade da banheira de modo que sirva de apoio para a nuca e ligo a minha música. Tenho um rádio Deco antigo de plástico azul-pálido perto da banheira que comprei em uma liquidação de garagem em Hollywood há alguns anos. A coisa mais esquisita: o rádio só consegue captar o sinal de uma única estação AM, que toca clássicos do jazz dos anos 1940 e 50, e é perfeito para mim.

O interior das paredes do meu banheiro é um campo reservado de sonhos e sobre o qual tenho controle total, sou a mestra de meu próprio universo elegantemente delineado. O mundo exterior desaparece aqui, há somente paz e um profundo senso de bem-estar.

A maioria das pessoas em minha vida tem uma visão distorcida disso... Como você pode chamar? Monomania? Excentricidade? Minha irmã, talvez, seja a pessoa mais diplomática de todas. Nós duas sabemos que possuo a tendência de perder minha conexão com a realidade quando me fecho dessa forma. Mas depois ela faz piadas dizendo que sou simplesmente outra bibliômana chata e que o que realmente preciso é de um pouco de ar fresco. Ela sempre foi uma maga com as palavras. Ela me contou que um livro que havia lido, de autoria de Nicholas Basbanes, adequadamente chamado Sobre os gentilmente loucos, afirma que o primeiro uso documentado da palavra bibliomania ocorreu em 1750 quando o quarto conde de Chesterfield enviou uma carta a seu filho ilegítimo advertindo-o que seu passatempo destrutivo com os livros deveria ser evitado tal qual "a peste bubônica". Ah, tá.

Eu tiro as roupas e as jogo no chão. Ao caminhar para a banheira, olho para o enorme espelho que vai do chão ao teto cobrindo uma parede inteira. Ai, meu Deus. Espere um minuto. Sabe quando você olha no espelho e está sempre com a mesma aparência até que, de repente, você parece dez anos mais velha? É comum que se perceba isso aos 35 anos. Minha cintura está mais grossa, meus seios estão mais caídos, o início de - mas que droga, isso aí na parte de trás das minhas coxas é celulite? Por que será que você pensa que essa coisa de idade não vai acontecer com você? Ai, veja a parte de trás dos meus cotovelos! Parecem cotovelos de uma senhora idosa, enrugados e com uma protuberância óssea.

Nunca fui capaz de imaginar minha aparência. Já me disseram que chamo atenção. Mas o que isso significa? É algo que as pessoas dizem quando não conseguem fazer os elogios normais, como "você é linda". Pode ser a minha altura, que as deixa desconcertadas. Tenho cerca de 1,80 metro, o que só recentemente virou moda. Também tenho pés enormes. Calço 41 em um dia bom.

Quando eu era jovem, odiava minha silhueta, alta, magra demais, parecendo um palito, que minha mãe descrevia como graciosa. Ela argumentava que minha beleza era especial e que seria apreciada quando eu ficasse mais velha. Apenas se dê algum tempo, ela dizia. Você vai ver. Você vai superar em esplendor todas aquelas outras meninas com corpos de ampulheta. Eu me sentia como Frankie em A convidada do casamento: "Uma aberração... pernas longas demais... ombros estreitos demais... não faço parte de clube algum e não sou membro de nada neste mundo".

Não era somente a minha aparência. Eu sempre me senti esquisita, a exceção em um mundo no qual, eu imaginava, todas as outras famílias eram normais e felizes. Virginia e eu suportamos os segredos e a vergonha de um pai ausente e uma mãe alcoólatra, e os poucos amigos que eu tinha, mantinha a distância, sempre aliviada quando eles não vinham me visitar. A questão era que eu tinha vergonha do fato de que minha mãe não conseguia lutar, e em alguns aspectos, ela passou isso para mim.

Fechei os olhos e entrei na banheira. Propositadamente deixei a água escaldante e, quando mergulhei o pé, os dedos ficaram vermelhos e começaram a doer. Quente demais. Adicionei um pouco de água fria, deixando a água correr pelos meus dedos enquanto ouvia uma versão ruim de Coltrane detonando "Love Supreme". Paul Desmond disse uma vez que ouvir jazz de fim de noite é como tomar Martini extra-seco. Acho que ele tem razão.

Tornei a enfiar o pé na água e então relaxei o corpo na banheira. Ainda muito quente. Girei a torneira com os dedos dos pés, adicionando mais água fria. Isso. Perfeito. Escolhi O trânsito de Vênus, um romance obscuro de Shirley Hazzard, cujo livro mais recente, O grande incêndio, tornou-se um dos favoritos dos clubes de livros. A premissa é fascinante. É sobre duas lindas irmãs órfãs cujas vidas estão predestinadas como a rotação dos planetas. Tentei me concentrar. A prosa é densa e complexa; eu vivia tendo que reler parágrafos inteiros. Comecei a devanear e me perdi. Isso não está funcionando. Basicamente, ainda estou deprimida.



Fonte: Entretenimento Uol

3 comentários:

Jeanne Rodrigues disse...

Lili,

Já tinha lido comentários desse livro.
E, como vc, achei a capa bem atraente.
E seu comentário está mto bom.

Bjos

Driza disse...

Oi Lili
essa leitura tb está pra mim. Ótima dia.

bjs

Driza

Vivi disse...

Lili, tudo bem, querida?

Bem, vou ponderar mais sobre a perspectiva de lê-lo. Quem sabe não topo com ele em alguma biblioteca por aí? Talvez não recuse uma bispadinha. Bjs

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