LOVE - A História de Lisey (Stephen King)

Lisey Landon compartilhava uma intimidade profunda e às vezes assustadora com seu marido, Scott, um escritor célebre e bem-sucedido — um homem cheio de segredos. Um desses segredos era a fonte de sua imaginação, um lugar com a capacidade de curá-lo ou destruí-lo. Em 'Love', dois anos depois de ficar viúva, Lisey precisa desvendar os papéis deixados pelo marido no escritório da casa isolada onde os dois moravam. Ela terá que enfrentar os demônios de Scott, embarcando em uma perigosa viagem para dentro da escuridão que ele habitava. Assim, adentra o fantástico mundo paralelo de Boo’ya Moon, refúgio dele durante a infância marcada por abusos e ao mesmo tempo fonte de sua criatividade. Lançando mão da linguagem particular do casal - termos bobos, letras de música, trocadilhos e apelidos que a viúva guarda como resquícios da intimidade conjugal - Scott deixou para a esposa uma espécie de quebra-cabeça, para que ela possa finalmente entendê-lo. 'Love' é uma parábola sobre a imaginação e o amor, e sobre o poder do amor de transformar e de salvar.


Há muito tempo não lia um livro de Stephen King. Não sei se vocês já leram algum livro dele, mas ele tem um estilo muito particular. Ele começa a revelar algo – tanto o que aconteceu, quanto o que vai acontecer e pára... Você fica lá pensando onde? Como? E tem de esperar : ele só revela na hora certa.


Esse livro mostra a história do amor entre Scott e Lisey. Quando começa, ela já está viúva há dois anos e só então tem coragem de começar desmontar o escritório onde o marido produzia seus livros. É como voltar ao passado – rever e reviver os acontecimentos daqueles 25 anos de casamento. Scott é um homem perturbado, tendo sofrido uma infância terrível criado apenas pelo pai em uma fazenda afastada e tendo como único amigo o irmão mais velho. Lisey era sua âncora, a única pessoa com que ele realmente se abriu, a quem se mostrou por inteiro, e que o aceitava completamente independente de tudo.


Um aspecto que gostei no livro foi o de mostrar a intimidade do casal na forma em que se comunicavam – nas expressões que usavam, nos filmes que assistiam e nas piadas particulares que somente eles entendiam. Talvez por Scott ser escritor – e um escritor famosíssimo, com dois dos principais prêmios literários americanos – esse aspecto fosse de real importância.


Um exemplo:

O restante daquela noite fez Lisey se lembrar do que Scott costumava chamar de Regra de Landon para o Mau Tempo: quando você vai dormir esperando que o furacão vá para o mar, ele vem para a terra e arranca o teto de sua casa. Quando acorda cedo e reforça a casa contra a nevasca, só caem uns flocos de neve.
Qual o sentido, então? Pergunta Lisey. Eles estavam deitados na cama juntos – alguma cama, uma das primeiras -, aninhados e esgotados depois de fazerem amor, ele com um de seus Herbert Tareyons e um cinzeiro no peito e uma ventania uivando lá fora. Que cama, que vento, que tempestade ou que ano ela não se lembrava mais.
O sentido é ESPANE, respondera ele – disso ela se lembrava, embora a principio tivesse pensado que não ouvira ou entendera direito.
Aspone? O que é aspone?
Ele amassou o cigarro e colocou o cinzeiro na mesa ao lado da cama. Pegou o rosto dela, cobrindo suas orelhas e isolando-a do mundo inteiro por um instante com as palmas das mãos. Beijou seus lábios. Então tirou as mãos para que ela o ouvisse. Scott Landon sempre queria ser ouvido.
ESPANE, babyluv: Engatilhe Sempre que Parecer Necessário.
Ela refletiu sobre aquilo – não era tão rápida quanto ele, mas geralmente chegava lá. Engatilhe Sempre que Parecer Necessário. Gostou daquilo. Era bem bobo, o que a fez gostar mais ainda. Começou a rir. Scott riu junto e logo estava dentro dela como eles estavam dentro da casa enquanto a ventania ribombava e sacudia do lado de fora.
Com Scott, ela sempre ria bastante.


O livro traz a busca de Lisey pelas lembranças esquecidas e o modo como Scott a conduz nessa busca, mesmo depois de morto. Era a forma de Scott ajudar Lisey a buscar o conforto e reencontrar seu caminho para a vida.


Gostei muito dessa história. Mostra um amor profundo, que nem mesmo a morte consegue apagar. Tem momentos de muita tensão e de muito suspense, mas também tem cenas que fazem rir. O mais interessante é o modo como Stephen King se utilizou de expressões para mostrar a intimidade familiar. Lisey e Scott tinham sua linguagem e Lisey e suas irmãs também. Scott ficava encantado com essas particularidades na fala e na forma de se expressar, sempre dizendo que “esse é um dos grandes, Lisey. Deve ter sido apanhado com a rede lá no lago.” Algumas dessas são: um perfeito milagre de olhos azuis (para quando tudo dava certo), ou a expressão Meu Jesus Carequinha da silva (achei essa ótima).


Scott sempre citava um lago “...o lago em que todos nós vamos beber e nadar, e em cujas margens pegaremos um peixinho... o lago que algumas almas destemidas singram em seus frágeis barcos de madeira, atrás dos peixes grandes... o lago da vida, a taça da imaginação...” Todos consideravam esse um lago metafórico, um recurso de discurso. Só que esse é um livro de Stephen King, então esse lago realmente existe e fica no mundo paralelo de Boo´ya Moon, o mundo onde Scott e seu irmão se refugiavam da terrível infância que viviam. Ele leva Lisey a esse outro mundo e o mostra a ela . Mas Lisey é uma pessoa que vive a realidade - tanto que é dela a parte prática do casamento (contas, compras, etc) - e ela se assusta com isso, forçando-se a esquecer-se desse lugar. Só que agora, ela precisa dessas lembranças e precisa reviver essa parte de seu casamento, no que é ajudada por Scott.

8 comentários:

Driza disse...

Oi Rê,
nunca li um livro de Stephen King, mas tô sentido que a hora é agora. Não podia ser diferente depois do seu depoimento.

bjs

Regina disse...

Oi Driza.

Adoro os livros do Stephen King. Leio desde os 17/18 anos. Acho que o primeiro foi O Iluminado (saiu numa edição de banca). Tem cenas de livros dele que ficaram marcadas em minha mente - e algumas me assustaram de verdade!

bjs

Vivi disse...

Eu já li Cristine...fiquei doida querendo devorar o livro de tão aterrorizantemente bom que era. Depois disso, nunca mais peguei nada de Stephen King receosa de até onde a mente doidivanas de King poderia chegar...rsrs
Mas, esse Love, sob o viés da Regina, me pareceu excelente.

Beijocas
Vivi

Anônimo disse...

Não li o post porque estou DOIDA pra ler esse livro e quero que seja supresa! Mas volto depois que conseguir comprá-lo! o/

Jeanne Rodrigues disse...

Regina,

Eu não olho nem 2 vezes p/ as capas dos livros dele, pois são sempre tão profundas..
Qdo tinha uns 13 anos li um livro dele que me assombrou tanto, e ainda insisti, mas não lembro do nome.
Depois disso fiquei com trauma.
Desculpa, amiga...

Júliah disse...

Muito maravilhoso esse livro, impossivel nao devora-lo ate o fim... assim como quase todos os livros do Stephen.. e para amantes do gênero nada melhor que It e a coleção Torre Negra.

Augusto Sales disse...

Ótimo post.

Abraços.

http://regthorpe.blogspot.com.br/2012/05/historia-de-lisey.html

Renan disse...

Eu estou quase terminando o livro (não se preocupem, não vou dar spoiler :-] )
Ele é excelente. Comprei numa feirinha do livro próxima da faculdade por... dez reais acho. Aquelas edições pocket, "ponto de leitura". Fazia tempo que não lia algo do King.

O que posso dizer é que é um livro menos de terror que a maioria. Mas muito absorvente. Recomendo para quem gosta de um bom suspense.

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