
Esta deliciosa fábula narra a emocionante viagem de Aalis, a jovem heroína, e sua descoberta do verdadeiro sentido da palavra liberdade. Aalis vivia encarcerada no castelo; sua vida havia sido raptada pela própria família. O casamento arranjado com o jovem Gilles de Soulliers era a garantia de uma velhice tranqüila para seu pai e também para a França e a Inglaterra, em guerra no século 12. Mas o seu noivo, que partira com os cruzados, morreu em batalha. Agora ela precisava fugir de outra união, com o velho Souilliers, e empreende uma fuga que a levará das agrestes paragens do norte da França para a charmosa catedral de Chartres; da sombra dos monges brancos de Císter e da ordem do Templo para os palácios onde os reis pactuam em segredo o destino dos povos.
Mais um daqueles casos em que a sinopse costuma ser mais atraente do que o livro em si. No que diz respeito ao aspecto medieval é possível encontrar um certo respaldo histórico ainda que apresente alguns equívocos aqui e ali. No entanto, um romance ficcional não se faz apenas de uma documentação plausível. É preciso acrescentar ingredientes que instigue a emoção do leitor. Em uma leitura arrastada e cansativa, vi escassos momentos de aventura. Pareceu-me a supremacia da técnica em detrimento da emoção. E é aí onde o bicho pega, isto é, onde a autora se perde. A aventura que pretendia ser de “capa e espada” é contada de forma tão apagada e desprovida de brilho que chega a causar bocejos. A história simplesmente não se desenrola. O tempo todo acontece um clímax na história que, ao invés de nos transpor para outros momentos e cenários, inexplicavelmente faz com tudo volte ao ponto de origem, como se nada tivesse acontecido. Ou seja, Aalis fugia, corria em meio aos perigos do desconhecido com o fim de alcançar seu objetivo de independência, mas a impressão é a de que ela ficava sempre no mesmo lugar: encurralada na zona de desespero de não saber-se independente como mulher, onde enfim pudesse decidir seu próprio destino.
Outro ponto que me incomodou bastante foi a ausência da descrição de personagens importantes para a trama. Ora, na minha concepção, o personagem e sua caracterização é o que há de mais importante ao se compor um livro; uma boa descrição é a chave de acesso aos portais da imaginação. Ainda que seja uma decisão de estilo e método abdicar de dar uma feição ao personagem, me incomoda não ver as suas características descritas com precisão. A sensação que tive é a de que não conheci a cara e nem o umbigo de Auxerre, o mocinho da história, mascarado pela ausência de sua própria persona. Mas, não é só com relação Auxerre que se pode observar tal omissão, muitos personagens são vozes sem rosto. No mínimo, muito estranho e impessoal. E tal fato contribuiu para que os personagens, inclusive os principais, perdessem a vitalidade em despertar o ímpeto da fantasia e da paixão em mim. E o romance de amor nem foi bom o suficiente para dar um caldo na leitura. Talvez estivesse também apagado pelo excesso de erudição e pouco entretenimento. Pronto, falei!