DL2011 - O Livreiro de Cabul

Antes de resenhar o livro, deixe-me dizer que não sou fã de livros-reportagem porque me envolvo demais sabendo que a história não é uma ficção, que as coisas realmente aconteceram e que vou me emocionar junto com as pessoas reais que fazem parte da história. Por isso, fujo de ler livros-reportagem, pois normalmente são livros que não mostram o lado bonito das coisas.

O que pode acontecer se uma jornalista norueguesa correspondente de guerra resolve partilhar da vida cotidiana dos afegãos? Este é o mote de O Livreiro de Cabul.

Asne Seierstad fez a cobertura da guerra da Aliança do Norte contra o Taliban e depois foi até Cabul onde conheceu Sulthan Khan, um importante livreiro afegão (o mais antigo do país). Deste encontro com Khan, surgiu a idéia de Asne para vivenciar e revelar o cotidiano do povo afegão. E o que pode dar quando uma mulher ocidental resolve viver 3 meses com a família de um muçulmano convicto? Asne vestiu-se de burqa e compartilhou os segredos, as histórias e o dia-a-dia da família de Sulthan Khan.

Sulthan Khan é um homem culto, elegante e charmoso. Muçulmano convicto, livreiro em Cabul, tem uma família tradicional com duas esposas, filhos, irmã, mãe... E foi assim, engraçado e atraente, que Asne o conheceu na época pós-Taliban (época em que todos no Afeganistão estavam mais felizes e muito mais livres, mas o tradicionalismo e a cultura ainda imperavam).

Em uma terra onde a maioria das pessoas são analfabetas, Khan era culto e falava o inglês de forma correta e culta. Na casa de Khan, sua irmã Leila também falava o inglês com certa facilidade, o que facilitou a experiência de Asne. Leila foi minha personagem preferida. É a faz tudo da família. Cuida da mãe, cuida de todos, com submissão, e ainda era eventualmente maltratada, principalmente pelo primeiro filho de Khan, Mansur, que a fazia de empregada da casa.

Com tanta gente na mesma casa, Sultan comandava a todos com tradicionalismo e na sua ausência, todos eram comandados pelo homem mais velho (na sequência), que neste caso era Mansur, o filho primogênito. Este tinha um desejo de ser um homem livre como qualquer ocidental.

Entre os lamentos da primeira esposa, com a chegada da segunda esposa de Sultan (mais jovem e mais bonita), com histórias que parecem de filme. Casamentos arranjados, segredos, paixões, guerra e lágrimas, Asne foi aprendendo a conviver como uma mulher afegã e descobriu porque o Afeganistão é ao mesmo tempo rico e pobre.

Descobriu também como é bom ser uma mulher ocidental, já que no Afeganistão, além das sufocantes burqas, as mulheres podem ser mortas por motivos simples e não comandam sua própria vida, vivendo de forma submissa e aceitando tudo passivamente enquanto sofrem caladas.

Foi uma experiência e tanto e acredito que todo jornalista deveria vivenciar algo assim quando se encontra em um país diferente do seu.

Detalhe: 
O nome do livreiro não é Sultan Khan na verdade, mas sim Shah Mohammed Rais. E na verdade, Asne não apenas contou a história de forma lírica, mas também acrescentou elementos ficcionais para tornar a história um pouco diferente da vivenciada. Shah depois do lançamento do livro de Asne, foi à Noruega processar Asne por não ficar satisfeito com o resultado do livro. O que também foi uma jogada de marketing da parte dele, que logo após lançou seu próprio livro "Eu sou o livreiro de Cabul" e conseguiu uma publicidade extra para a sua REDE de livrarias. Ah! Não conseguiu nada no processo contra Asne justamente por conta dos elementos ficcionais adicionados a história real.

18 comentários:

O Mundo escuro de Morringhan disse...

Esse livro está na minha lista já faz um bom tempo...Mas ainda não tinha parado para ler resenhas sobre ele. O motivo por querer lê-lo é que gosto de conhecer outras culturas e sou curiosamente atraída pelos povo oriental. Não sabia desse processo de Asne, não sabia muitas das características individuais de cada pessoa retratada no livro, mas você Medéia fez isso de uma maneira geral e atiçou ainda mais minha curiosidade...Principalmente quanto à personagem Leila. Ficou ótima sua resenha. Kisses ^-^

Leninha Sempre Romântica disse...

Adoro esse tipo de livros que nos transporta para uma realidade que nem sonhamos existir, parece tão impossível que a mulher seja tratada assim, mas a realidade desse tipo de livros nos abre os olhos!
Adorei sua resenha Medéia, adorei sua visão sobre o livro!
Beijos!

Anônimo disse...

Nossa adorei a resenha e o livro. Eu também gosto de livros com histórias reais, mais sempre me sinto mal quando leio. Sempre, sempre as histórias são tristes.
Eu já Mulheres de Cabul, de uma autor que não lembro o nome e fiquei traumatizada com a vida das mulheres orientais. É terrivel ..
Mais fiquei com vontade de ler este.
Beeijos!

mylovers893.blogspot.com

Juliana Vianna disse...

Oii! Adorei sua resenha. Não conhecia o livro e, apesar de não gostar, também, desse tipo de obra, eu fiquei bem interessada. Entendo perfeitamente como o Oriente é rico e pobre ao mesmo tempo, e sinto tristeza por não darem nem valor, nem respeito, para as mulheres.

Beijos, Ju

Driza disse...

Medéia do céu!
Que resenha é essa. Me deixou com água na boca de vontade de ler esse livro! Só vc mesmo....

bjsss

Mônica disse...

Olá Medéia, sabe que eu também fiz resenha desse livro para o Desafio deste mês. Mas que coisa linda que achei esta sua resenha! Perfeita!!!
Sabe que eu fiquei vários dias com este livro lido sem saber o que e como escrever. Pois o livro me envolveu tanto que fiquei chocada. Depois de muito pensar escrevi, agora vendo a sua percebo que como parece fácil escrever, que simples que é quando se ver pronta uma resenha.
Só me resta agora, humildemente, parabenizar a sua que ficou maravilhosa. Adorei!!!
Beijos

Anônimo disse...

Eu tenho esse livro, quer dzer meu Pai tem esse livro. Mais eu nunca li, fiquei interessada nele!

Gabi disse...

Leitora nova do blog e adorei! =)
Gostei muito dessa resenha, apesar de não gostar muito de ler livros ambientados no oriente, pq são meio que um choque de realidade. Mas fiquei bastante interessada nesse e já vou adicionar a minha lista.

=*

RUDYNALVA disse...

Gostei muito da resenha.
O livreiro de Cabul é um livro interessante porque nos mostra uma realidade totalmente diferente da nossa. É sempre muito bom aprender sobre outras culturas.
cheirinhos
Rudy

Jeanne Rodrigues disse...

Medéia,

me interessei pelo livro, mas como vc, fujo.

E ainda não li nadinha do Oriente,livros como esse pedem uma reflexão sobre a forma como mtas pessoas vivem a vida, e na sequencia nos trazem sofrimentos e ficamos de mãos atadas sem poder fazer nada para mudar a realidade.

Quem sabe um dia?

Parabéns pela resenha! Perfeita.

Bjos,

Flávia disse...

Me interessei pelo livro mas penso da mesma forma que vc sobre livro-reportagem... me sinto da mesma forma em relação a livros como Menina Morta-Viva, não leio, é uma sensação estranha...

Bjs

Evelyn Chen disse...

Se eu já me emociono e sofro com livros totalmente fictícios, que me levam pra baixo e me deixam triste, imagine com elementos reais... ainda mais envolvendo guerra, não é que sou insensivel ao sofrimento alheio, o problema é que fico triste com tanto sofrimento que fico com os fatos na cabeça durante dias, matutando. Livro escluído de minha lista de possíveis leituras. Pela sua observação quando a ser jornalista e vivenciar estas experiências ... sorte que não escolhi jornalismo, rs.

Aline disse...

Medéia,

Que experiência incrível deve ter sido a leitura desse livro. Eu adoro livros baseados em fatos reais. Há algum tempo estou querendo esse, agora vejo que preciso muito ler!

Bjs

fabdosconvites disse...

Um livro interessante sobre um dia a dia que nem imaginamos ainda existir. Bjs, Rose;D

Regina disse...

Eu estou com um livro dessa autora para ler, mas também fico meio apreensiva com livros reportagens...

Adorei a resenha e acho que vou procurar por esse livro também.

bjs

Anônimo disse...

Por favor!!!
Faz um desafio para o ano que vem!
Ainda dá tempo de montar um!

Bjs

Renato Ladeia França disse...

É muito perigoso para um leigo fazer uma leitura apressada de usos e costumes de uma sociedade diferente da nossa. Os valores de uma cultura são relativos e dependem dos costumes, tradições, história etc. A autora, ao usar elementos de ficção e também por não ter uma percepção da relatividade das culturas, cometeu uma tirania contra o livreiro e sua família. Ela o usou para fabricar um bestseller e ganhar milhões. A ética orienta que quando se utiliza pessoas reais para fazer uma ficção ou mesmo um trabalho jornalístico, é preciso tomar certos cuidados como não deixar pistas sobre essas pessoas.

CCHOCETANDO disse...

Já estive em Cabul em O caçador de pipas,um livro muito bom...Cristina.

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