Homenagem a Scliar - O Centauro no Jardim


"Estou deitado sobre a mesa. Um bebê robusto, corado; choramingando, agitando as mãozinhas - uma criança normal, da cintura para cima. Da cintura para baixo: o pêlo de cavalo. As patas de cavalo. A cauda, ainda ensopada de líquido amniótico, de cavalo. Da cintura para baixo, sou um cavalo. Sou - meu pais nem sabe da existência desta entidade - um centauro." 

Assim começa a trajetória de Guedali, o centauro - um ser metade homem, metade cavalo. Neste romance traduzido para diversos idiomas e premiado mundialmente, Moacyr Scliar constrói uma narrativa a um só tempo realista e fantástica, na qual o drama vivido pelo centauro-protagonista reflete, em última instância, a busca do ser humano por sua verdadeira natureza, a luta do sujeito moderno contra a alienação. Publicado em 1980, "O Centauro no Jardim" traz de volta toda a maestria de um dos maiores escritores brasileiros da atualidade.

A literatura brasileira perdeu um grande mestre da literatura no dia de hoje. E eu resenho aqui o meu livro preferido de Scliar. Li Centauro no Jardim nas “obrigações” da escola, mas adorei a história.


É a história de Guedali, filho caçula entre 4 irmãos de um casal russo, que nasceu centauro. Seus pais resolvem criá-lo como se fosse normal. Eles acabam descobrindo que é difícil criar um centauro no campo gaúcho. Mesmo sendo bom para o pequeno centauro galopar nos campos da fazenda, ele começa a se tornar alvo de discriminação e perseguição dos que o vêem como aberração.

Com a mudança para capital (Porto Alegre), ele passa a ficar trancado em casa, lendo e observando o mundo pela janela de sua casa. Cansado de se esconder, ele sai de casa e entra para um circo, onde finge ser “normal” fazendo um número de centauro com um irmão fictício que vestiria com ele sua fantasia.Ele se envolve com a domadora, mas ela descobre sua real condição e ele foge.

Durante sua fuga, ele conhece Tita, que foge de seu pai. Guedali mata o pai de Tita, e se envolve com ela. Os dois então passam a viver juntos e resolvem ir ao Marrocos tentar uma cirurgia para resolver seus problemas. A cirurgia funciona e eles passam a andar sobre as patas traseiras escondendo-as sob botas e calças.

Tudo começa a ficar normal na vida de Guedali e Tita, mas será que era para ser assim? Não vou contar o restante porque a história é muito mágica e cheia de surpresas e situações metafóricas.

Este livro foi premiado no mundo inteiro por tratar simbolicamente do judaísmo e de sua dúplice característica racial e religiosa.

Moacyr Scliar era gaúcho, judeu, médico sanitarista, professor, ocupante de uma cadeira da ABL e escritor de muitas obras e contos importantes. Para quem nunca leu nada de Scliar, recomendo ainda Cavalos e Obeliscos, O Exército de Um Homem Só, Max e os Felinos, Mês de Cães Danados e o romance adaptado para o cinema Sonhos Tropicais.

Fará falta na literatura brasileira este grande escritor de obras poéticas e simbólicas.

5 comentários:

Driza disse...

Oi Medéia,
linda sua homenagem.
Eu não conheço as obras de Scliar, mas estão anotadas as dicas.

bjs

Vivi disse...

Ai, Medéia...muito triste essa notícia. Liguei a TV no Globo News e foi a primeira coisa que vi. Fiquei chocada, pois tinha uma admiração pela mente dele sempre tão brilhante(mesmo quando não concordando com tudo o que dizia, não conseguia parar de admirá-lo). A mulher que escreveu a Bíblia é um show de livro, muito engraçado, tem romance, tem humor. Nunca vou esquecer a mocinha do livro: feia de doer. Estrábica com um olho mirando o espelho e o outro o infinito(rs), os cabelos capazes de humilhar qualquer cabelereiro...e não é que a mulher vai parar no harém do belo rei Salomão como uma de suas mulheres? A única letrada entre todas as mulheres da época...(risadas garantidas)
Certamente a melhor de suas obras!
Muitas saudades.

Bjs
Vivi

Anônimo disse...

Medeia,

Que linda homenagem a um escritor que vai deixar saudades. Eu estava acompanhando a saúde dele pelos jornais com preocupação.

Dele, li a Mulher que Escreveu a Bíblia, bom demais, como a Vivi comentou, e li também o pequeníssimo e excelente Max e os Felinos.

Certamente, Scliar permanecerá entre nós por meio de suas grandes obras.

Bjs
Aline

Jeanne Rodrigues disse...

Medéia,

Como a Driza, não li as obras do autor, mas pretendo ler em breve.

Uma bonita homenagem.

Bjos,

Patricia Cardoso disse...

Olá Medéia,

bonita homenagem a esse talentosíssimo autor.

Bjs...

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