Tema: Romance/Livro de Banca
Mês: Janeiro/210Neste mês eu li: Vida dura Autora: Claudia Tajes Editora: LP&M PocketNº de páginas: 168Sinopse: A vida de Leonel de Moura Brizola Coelho não é nada fácil. Além de suportar as brincadeiras por conta de seu nome, a ele faltam dinheiro, amor, conforto e trabalho. Não necessariamente nessa ordem. Pulando de biscate em biscate para sobreviver na periferia de Porto Alegre, ele tenta desesperadamente inventar novas formas de ganhar alguma grana. Até que ele se depara com uma reportagem de jornal que vai transformar a sua vida numa gozação só – e não no sentido figurado. Com o estilo irreverente que a consagrou como uma das mais interessantes vozes da novíssima ficção brasileira, Claudia Tajes tece essa bem-humorada e inusitada narrativa, que gira em torno de se ganhar dinheiro doando sêmen, concretizar as próprias fantasias, ser feliz e outras improbabilidades da vida.
O livro é sobre uma história nonsense. Inusitada mesmo. Não dá para contar os detalhes sob pena de cortar o barato da leitura. Portanto, sem ultrapassar as linhas gerais contidas na sinopse, seguem algumas observações nada ordenadas acerca do que li.
Metaforicamente falando, Vida dura, o título, refere-se ao endurecimento do órgão genital masculino. Isso mesmo que você leu, caro leitor. Estou falando do pênis. E no caso do livro em questão, a ferramenta de trabalho de Leonel, um obstinado doador de sêmen. Por força do ofício, sua ferramenta deve estar sempre alerta (positivo e operante!) sempre quando requeridos os seus préstimos. Como seria com qualquer doador de sêmen que leva tão ferreamente o seu ofício, circunstâncias inusitadas não se furtam a acontecer. Eis a síntese da nada mole vida de Leonel Brizola.
Assim como Dominique Molise de Fante, Leonel Brizola, apesar da condição sui generis de seu sustento, é um sujeito comum desempenhando seu papel de inventor de utopias. Um perdido em sonhos de glórias! È de uma estranheza ver como realmente ele leva a sério a fantasia de uma prodigiosa carreira como doador de sêmen! Mas...para o bem ou para o mal, esse é o Leonel com todos os vícios e virtudes de sua fértil imaginação.
E assim Claudia Tajes faz troça desse pobre sonhador! E ao explorar o tom jocoso, Claudia nos fornece um elo emocional que nos liga à visão de mundo de Leonel.
Abro um parêntesis para citar as palavras Dostoiévski escritas em “Escritos ocasionais”. De certo modo tais palavras alcançam correspondência com o micro-mundo particular de Leonel:
E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?
Essa citação encaixou-se bem à imagem mental que fiz da trama como um todo. Leonel é deformação grotesca do sonhador que exagera no sonhar. Uma caricatura vivendo ao sabor do vento.
No final das contas, o que se lê é o humor combinado a uma boa dose melancolia. Um humor que não me fez rir de doer, é vero. De fato os acontecimentos narrados suscitaram-me piedade. Não que seja essa uma característica desabonadora da obra. Não é bem assim. O texto de Tajes é amigo da realidade sem peneiras, não há odes à nobreza e à pureza de atitudes. Alegríssimo off. Ao invés da densidade dramática, a autora opta pela comicidade presente em uma vida “desinspirada” onde o risível é de um gênero triste. Esse contraste adequa-se a trama perfeitamente. Vale a pena ler.
Escolhi o livro porque tendo lido Dez quase amores e a Vida sexual da mulher feia, gostei do estilo da Claudia Tajes e quis conhecer mais de suas obras.
A leitura do livro foi perturbadora. De uma qualidade que nos faz pensar. Aliás, essa é uma característica forte na escrita de Tajes. Não deu outra: senti-me desconfortável em acompanhar o hedonismo solitário e utilitário de Leonel. Foi meio claustrofóbico assisti-lo encerrado em seu quarto, na cabine de doação de sêmen masturbando-se, preso ao seu mundinho sem perspectiva, numa imersão tóxica de escapismo. Considero uma leitura enriquecedora por trazer à baila a questão do estigma que marca aqueles que vivem como podem.
Antes de dar minha nota, uma explicação: percebi que alguns participantes do desafio não estão se sentindo confortáveis em avaliar a obra lida com base em menções. Considero justíssimo. Aliás, uma fala em especial me fez repensar esse lance de notas. O objetivo nunca foi o de depreciar os autores e seus escritos. Como leitora consciente que sou, respeito o trabalho de nossos escritores e sei o quanto é árduo o trabalho de composição literária. E por isso esclareço: de minha parte, a avaliação serve como uma classificação pessoal e emocional sem maiores pretensões analíticas mesmo porque não tenho cacife para tanto. Portanto, sendo fiel a esse meu pensamento, aboli a categorização dos livros como sendo bons ou ruins. Em seu lugar, surge uma nova categorização de um jeitinho só meu, claro, e por isso, inteligível apenas para mim. Assim sinto-me confortável para acompanhar o percurso de minhas leituras da forma emocional, sensorial e a flor da pele como sempre fiz.
Nota ao meu gosto*:4/5*
De 1 a 5, com gradação crescente do que menos gostei para o que mais gostei. That’s all...
5 comentários:
Oi, Vivi.
Que profissão, hein? hehehe... O livro parece no mínimo muito interessante. Fiquei tentada a conhecer o Leonel. Já está na minha lista!
Bjinhos, Rê.
Ei Vivi,
Que show de resenha :)
Não conhecia este livro e ainda não li nenhum livro da autora mais achei muito perturbador e interessante.
Concordo com você, também não gosto de dar nota para a obra. Afinal isso é muito pessoal para cada leitor.
bjooo
Tem selinho pra vc no meu blog, espero que vc goste!
Foi feito com muito carinho!
Essa leitura não me atraiu. Acho que não arrisco, Vivi!
Sabe, sempre que entro aqui, dou uma olhada rápida antes de ler a resenha com mais atenção. Geralmente não olho o nome de quem escreveu nessa leitura 'transversal'. Só de ler algumas frases já saquei que era sua.
Como sempre, vc mandou muito bem. =]
Vivi,
que livro heim?
Autora brasileira e enredo pertubador...
Alem de uma resenha bem instigante...
Claudia faz parte da minha lista pessoal de autoras que VOU LER em 2010.
Gosto de livros diferentes, dá mto o que pensar.
Bjos,
Jê
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