“Eu sou Ayaan, filha de Hirsi, filho de Magan, filho de Isse, filho de Guleid, filho de Ali, filho de Wai´ays, filho de Muhammad, filho de...” Não, não se trata de uma genealogia bíblica, mas de uma menina somali de cinco anos que em plena década de 1970 responde a uma simples pergunta de sua avó: quem é você? Aos poucos, com persuasão e surras, ela aprenderá a recitar a genealogia de seu pai até o grande clã Darod, oito séculos atrás. E assim obterá o conhecimento mais importante de sua vida: a linhagem, sem a qual não será nada. É nesse mundo tribal, clânico e muçulmano que Ayaan nasce, cresce, tem o clitóris extirpado aos cinco anos, é chamada de prostituta e esmurrada pela mãe quando chega sua primeira menstruação, e tem o crânio fraturado por um pregador do Alcorão que a obriga a decorar o texto sagrado em árabe, língua que não entende.
Mas Ayaan também é filha de um importante opositor da ditadura de Sial Barre, e sua família é obrigada a se exilar da Somália. E assim ela conhece os rigores do islamismo da Arábia Saudita (onde mulher não entra no país nem sai à rua desacompanhada de homem), o cristianismo monoficista da Etiópia e a salada cultural do Quênia, cada país com calendário próprio e escolas em idiomas diferentes. Na Adolescência, para manter sua identidade diante de tanta diversidade cultural, ela se aferra ao islamismo e chega mesmo a aderir ao fundamentalismo mais radical. Mas a perspectiva de passar o resto da vida ao lado do desconhecido com quem foi obrigada a se casar acaba por levá-la à fuga e ao exílio no Ocidente.
Ayaan se exila na Holanda e ela descobre então os valores ocidentais iluministas de liberdade, igualdade e democracia liberal, e passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana. Sua coragem valeu-lhe uma eleição para deputada na Holanda, mas também a condenação à morte pelos radicais islâmicos, que veio na forma brutal de uma carta cravada com faca no peito do seu amigo Theo Van Gogh, cineasta com que fizera o filme Submissão em 2004, sobre a opressão da mulher no islamismo.
Ameaçada de morte, foi obrigada a abandonar a Europa e vive atualmente nos Estados Unidos. E em 2005, a revista Time a incluiu entre as cem pessoas mais influentes no mundo.
Este livro que é a autobiografia de Ayaan Hirsi Ali, escrita aos 37 anos por uma jovem mulher somali, que vive sob a ameaça de morte do Islã, pois como diz o subtítulo deste livro: é a mulher que desafiou o Islã.
Uma mulher que superou toda a dor da infância, com as surras, a extirpação de seu clitóris, entre outras barbáries a que foi submetida na infância e adolescência. Ela poderia após ter ido pra Holanda ter vivido a sua vida sem se envolver com os problemas dos outros, mas munida de muita coragem ela não se calou, e destemidamente lutou pelo direito das mulheres muçulmanas e pela reforma do Islã.
É uma história de vida comovente e extraordinária, que vale a pena ser lida, e talvez sonhar e se possível contribuir de alguma forma para que no futuro todos nós mulheres possamos em qualquer cultura e religião sermos livres para viver plenamente a vida do jeito que escolhermos, e principalmente SEM VIOLÊNCIA.
17 comentários:
Paty,
Me arrepiei...
Que história !!!
Dá uma dorzinha no coração imaginando o sofrimento dela e saber que mesmo assim ela seguiu em frente, nao se escondeu e ainda continuou a ajudar o proximo.
Colocando na lista...
Bjks,
Jê
Também fiquei arrepiada! Que história, que vida... essa história já me incomodaria se fosse ficção, sendo realidade então...
Ainda bem que existem algumas mulheres com força e vontade para mudar as coisas. Graças a elas ainda há esperança.
Paty!
Você entrou também na minha lista das corajosas, junto com a Rê.
Eu tenho certas restrições a biografias, e principalmente àquelas que tratam de violência contemporânea, pois, me envolvo tanto que perco a noção do personagem, que na verdade, nessas circunstâncias, é uma pessoa mesmo, viva atualmente, que passou recentemente por tamanha crueldade.
Só de ler sua primorosa resenha já me sinto comovida, tocada, e, com muita vergonha, porque tais situações estão acontencendo, e o que eu, parte da raça humana, estou fazendo para evitá-las?
É.
Bj! E parabéns pelo post!
Essas histórias de redenção me comovem, Paty. E como a Dri sinto-me apequenada e envergonhada por não sair do canto.
Excelente dica!
Beijos
Ah, sou eu vivi que comentei acima. Estou no login do RG.
Beijocas
Me revolta essas culturas tão rígidas e violentas.
Me sobe uma ira tão grande, tão fervorosa.
Isso é um absurdo tremendo, essa violência desmedida e desnecessária contra mulher e contra tudo que vá de encontro com a ideologia de alguns.
Fico muito, muito revoltada.
Essa é uma mulher de fibra.
Esse livro FAÇO QUESTÃO de ler.
Grande abraço, meninas do chá.
Nem vou ler, porque esse livro está na minha estante!!! Li o segundo dela (comecei pelo final, pode?).
beijinhos!
Olá meninas,
realmente é uma história arrepiante. A maior parte do tempo que li este livro foi acompanhada pelo sentimento de indignação, recheada com muitas lágrimas.
Beijos,
Paty
Essa mulher tem coragem. O livro é ótimo, muito bem escrito, nem da pra sentir as paginas passando, principalmente por causa da raiva que você sente.
Os livros da Jeane P. Sasson também são assim e também falam de pessoas reais, mas esse eu achei mais forte.
Bjos
nossa gnt
essa história sempre me deixou cismada acompanhei, algumas coisas disso pela midia(nessas materias especiais) e esse tipo de história (biografias) é um dos meus tipo prediletos de livro pois nos mostra que não devemos abaixar a cabeça e ceitar tudo de boca fechada, e que podemos dar a volta por cima, com certeza vou ler esse ^^
òtima opinião do livro, ja to colocando o livro na minha lista de compras...heee...beijokas elis!!!!!
Oi Paty,
que leitura heim! Parabéns pelo post.
bjs
Driza
Paty,
Linda história de luta e superação! Emocionei-me, já pensando em quando vou ler...
Adorei o post.
BJS
Estou lendo este livro maravilhoso!
Choquei-me em saber que existe mentalidades ainda tão atrasadas no mundo Globalizado. Que existe tanta miséria, tanta tristeza.Mas também senti a alegria de saber que existem mulheres capazes de lutar, igual a Ayaan Hirsi Ali.
Paty comprei este livro e vou dar para minha mãe de pascoa, aqui em casa nos presenteamos com livros e este vai para toda familia, pois adoramos ler,,estou ansiosa para começar, depois da mãe é claro rsrsr , ela le primeiro..adorei o chá das cincos..sempre vou vir aqui e ver os comentarios antes de comprar ..obrigada por fazer o chá.
beijos
A sinopse é assustadora, mas um convite à uma cultural muito diferente da minha. logo, tenho que aceitar o convite e mergulhar neste livro... Já estou caçando-o pela net.
Olá!! Muito boa essa resenha, acredito que o livro deve ser inspirador.
Um abraço!!
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