Assim começa as confissões de Max Tivoli, uma tocante história de amor com um narrador como nenhum outro.
Quando Max nasceu, seu pai o declarou um Nisse, uma estranha figura da mitologia dinamarquesa, pois tinha a aparência de um velho à beira da morte. Max evolui como uma criança qualquer, mas na aparência rejuvenesce — por fora um homem muito velho, por dentro uma criança amedrontada.
Mas, apesar desse problema, o verdadeiro dilema da vida de Max é seu primeiro e único amor, Alice, por quem se apaixona ainda na adolescência. Com a fisionomia de um Senhor de cerca de 60 anos, a única coisa que consegue é tornar-se um amante da mãe de Alice. Uma noite, Max resolve declarar seu amor a Alice e revela que é um garoto de dezessete anos. No dia seguinte, ela e sua mãe fogem, o que deixa Max arrasado. Mas o que ele não sabe é que uma manobra do destino o colocará novamente mais duas vezes cara a cara com a sua amada, que não o reconhecerá — então será dada a ele nova chance de amar, mesmo que para isso ele tenha de continuar escondendo sua verdadeira identidade.
Ao ler a sinopse, um pensamento surge; “Eu nunca ouvi falar dessa história antes”! Não é fácil achar uma ficção com um enredo tão original. As confissões de Max Tivoli é um livro bem escrito e fica patente a criatividade com que a trama é urdida. Andrew Sean Greer, o autor, é dono de uma escrita escorreita e lírica. E o tempo todo, na voz de Max Tivoli, nos presenteia com frases que queríamos muito ter tido pela espirituosidade ou pelo senso irônico ou pela beleza nelas contidas. Selecionei essa passagem a título de ilustração da beleza da escrita do autor bem como do romantismo temerário e fiel de Tivoli :
Às vezes eu penso naquela vespa. A que picou minha Alice. Loura e listrada como o olho de um tigre, vivendo sua vida numa colméia pendurada em South Park. Morta agora, é claro, esmigalhada há cinqüenta anos. Mas gosto de pensar que enquanto viveu, via a terna Alice pela janela da sala. Dia após dia, zumbia e murmurava em seu quarto, examinado minha garota enquanto ela lia seus péssimos romances ou cantava para o espelho da penteadeira. Não fazia mel; não fazia favos; não tinha nenhuma finalidade na terra a não ser aborrecer e deveria ter sido morta há meses se os senhorios tivessem sido mais atentos. Um insento sem valo, mas que amava. Vivia para observá-la. E em seus últimos dias — pois a vida é breve para as vespas — fechou a casa, saiu do seu terraço com lanterna, mergulhou duas vezes no ar e caiu por fim na vida dela. Morreu, é claro. Uma nódoa de sangue pardacento. Uma coisa corajosa e estúpida, uma coisa bela, desperdiçar a vida por amor.
No entanto, mesmo se sustentando no enredo criativo e em pura poesia, o texto falha na caracterização. Não consegui enxergar um Max real e, por conseguinte, não consegui encontrar veracidade em seu amor por Alice. A história romântica, espinha dorsal da trama, não me convenceu. Por mais fantasioso que seja o enredo, é preciso contextualizar as caracterizações dos personagens de modo que a narrativa seja plausível. O que não acontece a medida que a leitura transcorre.
Em suma, o livro é capaz de manter o interesse do leitor, mas, infelizmente, não impacta.
4 comentários:
Oi Vivi,
Adorei o trecho, realmente é de uma beleza ímpar. Pena que no todo o livro não leve nota máxima.
bjs
Driza
Vivi,
Tinha tudo pra ser impactante...
Pena que a realidade foi outra.
Mas parece ser uma boa leitura.
Bjos
Vivi,
Parece ser uma história boa e bem original.
Tão poética assim, enterce. Porém se não conseguimos "ver" o personagem, fica difícil né!
Que pena que não foi tão bom assim...
Bjs
Hã??? É romance sobrenatural, Vivi?
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