Na Estante do Chá - A menina que roubava livros



O Chá tem tanta resenha que nem dá para contar! Já comentamos tantos livros que os leitores nem imaginam! Nas nossas resenhas, já apareceram novidades que estão sendo publicadas agora, raridades que continuam na moda, e livros tão sensacionais que merecem ser lembrados a todo momento. Como tudo é que é bom tem que se repetir, o blog traz de volta resenhas de sucesso, para que os leitores tenham a oportunidade de ler, ou reler, histórias que já pintaram por aqui. Quem já leu, pode aproveitar para lembrar. Quem não leu, fica com a dica imperdível de mais um livro inesquecível !

*****

Sinopse:

"Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em A Menina que Roubava Livros, livro há mais de um ano na lista dos mais vendidos do The New York Times.
Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, O Manual do Coveiro. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.
E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de rouba-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.
Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora. Um dia todos irão conhecê-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena."


Ao me deparar com este livro, não sabia realmente o que me esperava. As expectativas eram boas, mas, de longe, foram superadas pela poesia imersa na narrativa. Pequenas nuances no uso das palavras, misturadas à forma diferente de linguagem e de narrativa, fazem do livro um exemplar único de literatura. Ao longo das páginas, aparecem citações, pensamentos, jogos de palavras, e amostras do que ainda será contado. A narradora é generosa quando nos conta algo antes, levemente, para nos poupar do sofrimento maior. E não é só isso. Além da escrita peculiar, a história é excelente.

O próprio resumo conta muito, mas sem contar quase nada. As páginas sucedem cheias de surpresas e reviravoltas. Não é fácil contar a história de uma criança na época da Alemanha nazista. Nada parece existir de bonito nesse tempo de horror e de destruição moral e física. Mas, Liesel é a sacudidora de palavras. E ela sabe sacudir o leitor. E a Morte consegue contar uma história envolvente. "Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler."

Figura do imaginário humano, poucos querem encarar a Morte. Porém, a Morte narradora da história é dotada de sentimentos. As pessoas a surpreendem a todo momento, para o mal e para o bem. Os momentos em que ela é solicitada são contados com poesia e sensibilidade.
Entre os livros, Liesel constrói a sua vida. Os episódios marcantes acontecem em função do seu prazer em ler, em decifrar palavras. Os livros encontrados, os livros dados, os livros roubados. E os personagens fascinantes, que transitam à sua volta, logo se envolvem na busca da menina por mais livros e mais palavras. Sem perceber, Liesel dá novo sentido à existência de pessoas que não tinham mais esperanças de viverem momentos felizes e puros.

No tempo em que um homem dominou o mundo com palavras, uma menina nos mostra que as palavras são mais. São as sementes do amor, da amizade, do perdão, da tolerância e da união entre os povos.

Degustação:
" • EIS UM PEQUENO FATO •
Você vai morrer.
Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo."

*********

"Em 23 de junho de 1942, havia um grupo de judeus franceses numa prisão alemã, em solo polonês. A primeira pessoa que peguei estava perto da porta, com a mente em disparada, depois reduzida a passadas, depois mais lenta, mais lenta... Por favor, acredite quando lhe digo que, naquele dia, peguei cada alma como se fosse um recém-nascido. Cheguei até a beijar alguns rostos exaustos, envenenados. Ouvi seus últimos gritos entrecortados. Suas palavras evanescentes. Observei suas visões de amor e os libertei de seu medo. A todos levei embora e, se houve um momento em que precisei de distração, foi esse. Em completa desolação, olhei para o mundo lá em cima. Vi o céu transformar-se de prata em cinza e em cor de chuva. Até as nuvens tentavam fugir. Vez por outra, eu imaginava como seria tudo acima daquelas nuvens, sabendo, sem sombra de dúvida, que o Sol era louro e a atmosfera interminável era um gigantesco olho azul. Eles eram franceses, eram judeus, e eram você."

************

"Arrancou uma página do livro e a rasgou ao meio. Depois, um capítulo.
Em pouco tempo, não restava nada senão tiras de palavras, derramadas feito lixo entre suas pernas e em toda a sua volta. As palavras. Por que tinham que existir? Sem elas, não haveria nada disso. Sem as palavras, o Führer não era nada. Não haveria prisioneiros claudicantes, nem necessidade de consolo ou de truques mundanos para fazer com que nos sentíssemos melhor. De que adiantavam as palavras?"


*Originalmente publicada em 24.07.2008. Apenas um comentário: hoje, em 2011, ainda considero um dos melhores livros que já li.

27 comentários:

Driza disse...

Oi Aline,
Adorei a análise (da qual vc quase fugiu!!rss), e, olha que coisa boa, aguçou ainda mais a minha vontade de ler esse livro. Essa Morte deve mesmo ser bem bacana, estou curiosa!
bjs

Regina disse...

Adorei seu post, principalmente o final sobre a importância das palavras. Estou vendo que esse livro tem de entrar na minha lista de prioridades.

bjs

Aline disse...

Meninas, leiam! Vale a pena. O livro é realmente emocionante. Obrigada pelos comentários! BJS

Anônimo disse...

Esse livro é perfeito. *.*
Não consigo nem acreditar que só o comprei pelo preço, que se não fosse isso, teria passado batida por ele!

Anônimo disse...

"Que maravilhosa indicação! Adorei a sua postagem e o modo como descreveu o livro."

Satisfeita? :P

Nah, realmente, muito bom seu post. Teria me dado vontade de lê-lo, caso não conhecesse e amasse.

Vivi disse...

Muita bem expressa a sua percepção da história, Aline. Aguçou-me a vontade de relê-lo. Parabéns!

Bjs

Jeanne Rodrigues disse...

Aline,

Fiquei ainda mais interessada com seu comentário.

Bjos

Driza disse...

Liesel roubava livros, a narradora roubava almas, Rudy roubou-me suspiros, Max roubou-me lágrimas e Hans Hubermann roubou-me sorrisos.
Inesquecíveis e apaixonantes esses (e outros) personagens a bem da verdade não roubaram nada, mas doaram, presentearam o leitor em cada palavra lida de cada frase de cada página até o ponto final e derradeiro.
Em certo momento, lá na página 453, Liesel perguntou de que servam as palavras. Bem, Markus Susak deve ser o possuidor da resposta, porque sem dúvida é o dominador dela.
O livro, O autor.

Vivi disse...

Lindo, Driza! Sensação boa quando nos deparamos com livros que nos comovem dessa maneira.
Beijos

Aline disse...

Continuo tão apaixonada por esse livro como quando o li pela primeira vez. Espero que quem não tenha lido ainda, anime-se dessa vez.

Bjs

fabdosconvites disse...

Já cheguei a pegar este livro na biblioteca, mas não sei porque acabo não trazendo. Bjs, Rose.

Adriana disse...

Eu li esse livro e confesso que no início da leitura achei que não fosse gostar, mas a medida que se vai lendo, vai se envolvendo com a história, eu tb digo que esse é um dos melhores livros que li até hoje, com certeza, parabens pela bela resenha! Bjo!

Liine disse...

Foi o 1° livro de comprei, no 1° salário do meu 1° emprego, apesar de viver entre 'empréstimos'... O Dinheiro mais bem gasto na minha vida, amo esse livro, e acho que todos deveriam ter a oportunidade de lê-lo.

Jeanne Rodrigues disse...

Aline, ainda não li esse livro.

Percebo que só eu estou perdendo adiando essa leitura.

Obrigada por me lembrar.

Bjos,

Wemille disse...

Ai, esse livro s2'
Eu li ele esses dias, muito lindo, e triste e feliz....

Patricia Cardoso disse...

Olá Aline,

o título deste livro me atrai e ao mesmo tempo me assusta, mas, tenhop que lê-lo, sei que estou sendo meio infantil ao sempre adiar a leitura dele. Bjs...

Rayme disse...

tentei ler este livro, mas cheguei na metade e não consegui terminar. achei uma leitura cansativa... sei lá, não gostei.

Unknown disse...

Tenho a mesma impressão que a Rayme, mas tentarei dinovo.

Anônimo disse...

Eu já tive o livro em mãos (mas não tinha lido, dá pra acreditar?!) e o que me achou a atenção é a forma como foi escrita.
Acho que vou ler, não por causa das paradas de sucesso, mas por seguir seu próprio modo de ser. Me agrada livros assim, tem essência.

Bjs

Rosicley disse...

Oie!!! eu estou apaixonada pelo livro, qro ler novamente!

eva disse...

Um livro maravilhoso, que fica com voce despois que termina. Vale muito a pena ler e reler.

Anônimo disse...

A capa desse livro é legal, mas eu prefiro a contra capa dele, onde tem uma locomotiva soltando fumaça no meio de uma floresta encharda de neve...

Uma coisa é verade: quando gostamos de um livro com vontade, nos não o esquecemos. Talvez não lembremos do nomes do personagem, da autora, da capa...Mas sempre levamos conosco um pedaço dela! {referente a última estrofe da resenha}

Heloisa Nogueira disse...

Esse livro é maravilhoso, chorei muito no final. É um livro que toca a alma e faz o coração chorar.

Unknown disse...

Emocionante. Imperdível.

Bjs,

Samantha Britto.

Anônimo disse...

Gostou de A menina que roubava livros mesmo? Sugiro que leiam A Vida em Tons de Cinza! Meninas do chá, amei o livro!Passa na história de Stalin e os povos bálticos. Só pra quem gostou do livro aí de cima, talvez...
Bem, bjs
Thata

Cali Medeiros disse...

Aline, falar de Liesel Meminger, é contar um pedacinho da história...em toda a narrativa, vivi os momentos, o livro me deixou sem palavras, pq todas as palavras de sentimento e vida estavam contidos nele...apaixonante...ameiiiiiiiiiiiiiii!!!!

ss disse...

Esse livro é simplesmente FANTÁSTICO. Super recomendo. Amo histórias de romance relatadas na 2º Guerra. Entre "A espiã de Vermelho","Memórias de uma gueixa", "A menina que roubava livros" conseguiu ser o melhor. Me apaixonei pelos personagens, principalmente pelo Max. <3

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